1 de agosto de 2014
Cientistas do Salk descobrem que planta usada há séculos por curandeiros de São Tomé e Príncipe traz lições para a medicina moderna
Cientistas do Salk descobrem que planta usada há séculos por curandeiros de São Tomé e Príncipe traz lições para a medicina moderna
LA JOLLA – Por centenas de anos, curandeiros em São Tomé e Príncipe – uma ilha na costa oeste da África – prescreveram folhas e cascas de cata-manginga para seus pacientes. Essas colheitas do voacanga africana Diz-se que a árvore diminui a inflamação e alivia os sintomas de transtornos mentais.
Agora, cientistas do Salk Institute for Biological Studies descobriram que o poder da planta não é apenas folclore: um composto isolado de voacanga africana protege as células de vias moleculares alteradas ligadas a Doença de Alzheimer, a doença de Parkinson e a neurodegeneração que muitas vezes se segue a um acidente vascular cerebral.
“O que isso nos fornece é uma fonte de potenciais novos alvos para drogas”, diz a autora sênior Pamela Maher, cientista sênior da Salk's Laboratório de Neurobiologia Celular. Os resultados foram divulgados esta semana no Jornal de Etnofarmacologia.
Antonio Currais, um pesquisador associado que trabalha com Maher, estava visitando a família em sua terra natal, Portugal, quando cruzou com Maria do Céu Madureira, pesquisadora de etnofarmacologia da Universidade de Coimbra. Há vinte anos, Madureira faz um levantamento do uso de fitoterápicos na ilha. Currais e Maher desenvolveram recentemente uma série de testes para rastrear compostos quanto ao seu uso potencial no tratamento de distúrbios neurodegenerativos e Currais viu a chance perfeita de testar o ensaio. Ele começou uma colaboração com a equipe de Madureira.
Legenda: Os curandeiros de São Tomé e Príncipe Sum Pontes e San Verónica recolhem a planta V. africana para os seus doentes. Em ensaios, a planta mostrou-se potente na redução da inflamação, do estresse oxidativo e dos peptídeos beta-amilóide (tipicamente associados ao mal de Alzheimer).
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Imagem: Maria do Céu Madureira See More
“Já havia muita informação descritiva de determinadas plantas com potencial efeito sobre o sistema nervoso”, diz Currais. “Levamos isso adiante para documentar quantitativamente a real ação neuroprotetora dos compostos dessas plantas”.
Currais e Maher começaram estudando sete diferentes extratos coletados de cinco espécies de plantas em São Tomé e Príncipe. Três dos cinco foram relatados por curandeiros locais como tendo efeitos no sistema nervoso e dois foram usados como controle. A equipe de pesquisa de Salk colocou cada amostra em diferentes ensaios - todos conduzidos em células vivas humanas e de camundongos - projetados para testar seu impacto potencial contra a neurodegeneração.
Um ensaio testou a capacidade dos extratos vegetais de proteger as células contra o estresse oxidativo, um subproduto do metabolismo que pode causar danos ao DNA e tem sido associado à neurodegeneração relacionada à idade. Outro testou as propriedades anti-inflamatórias dos compostos. Um terceiro teste mediu se as amostras poderiam bloquear o acúmulo de peptídeos beta-amilóides nos neurônios, que tem sido associado à doença de Alzheimer.
“Fiquei surpreso com a potência deles”, diz Maher. “Achei que talvez veríamos um pouco de atividade em alguns dos ensaios e depois teríamos que separar os componentes individuais para ver um efeito mais profundo”. Mas uma amostra em particular—voacanga africana—realizado excepcionalmente em todos os ensaios, mesmo em sua forma mais diluída.
Quando Currais e Maher isolaram diferentes componentes da planta, descobriram que os efeitos antiinflamatórios e neuroprotetores da planta se deviam principalmente a uma molécula, chamada voacamine. O composto ainda não foi testado em modelos animais, mas seu desempenho nos ensaios sugere que pode ter potencial farmacêutico para o tratamento de Alzheimer, Parkinson ou derrame.
“Ainda existem muitas fontes potenciais de drogas em plantas nativas de países ao redor do mundo e a maioria delas não foi testada em nenhuma extensão”, diz Maher. “Você não pode testar tudo, então a melhor maneira de abordar a pesquisa de plantas para drogas é usar o conhecimento que existe há milhares de anos para ajudá-lo a escolher o que estudar com técnicas modernas. Dessa forma, você não está apenas atirando no escuro.”
Maher, Currais e Madureira planejam mais estudos de acompanhamento com voacamaína e também esperam aplicar seus ensaios em mais plantas de interesse.
Outros pesquisadores do estudo foram Chandramouli Chiruta e Marie Goujon-Svrzic, do Salk Institute for Biological Studies; Gustavo Costa, Tania Santos, Maria Teresa Batista, Jorge Paiva e Maria do Céu Madureira do Universidade de Coimbra.
Tanto os investigadores portugueses como os americanos trabalharam em plena parceria com instituições locais, curandeiros tradicionais e comunidades de forma a conduzirem com respeito a investigação na área do conhecimento indígena, assegurando os direitos de propriedade intelectual e a partilha dos benefícios que possam advir do estudo dessas plantas medicinais locais.
Sobre o Salk Institute for Biological Studies:
O Salk Institute for Biological Studies é uma das instituições de pesquisa básica mais proeminentes do mundo, onde professores de renome internacional investigam questões fundamentais das ciências da vida em um ambiente único, colaborativo e criativo. Com foco na descoberta e na orientação de futuras gerações de pesquisadores, os cientistas da Salk fazem contribuições inovadoras para nossa compreensão do câncer, envelhecimento, Alzheimer, diabetes e doenças infecciosas, estudando neurociência, genética, biologia celular e vegetal e disciplinas relacionadas.
As realizações do corpo docente foram reconhecidas com inúmeras honras, incluindo Prêmios Nobel e associações na Academia Nacional de Ciências. Fundado em 1960 pelo pioneiro da vacina contra a poliomielite Jonas Salk, MD, o Instituto é uma organização independente sem fins lucrativos e um marco arquitetônico.
JORNAL
Jornal de Etnofarmacologia
IMERSÃO DE INGLÊS
AUTORES
Antonio Currais, Chandramouli Chiruta, Marie Goujon-Svrzic e Pamela Maher do Salk Institute for Biological Studies; Gustavo Costa, Tania Santos, Maria Teresa Batista, Jorge Paiva e Maria do Céu Madureira da Universidade de Coimbra
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Tel: (858) 453-4100
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